(Re) construindo o processo de criação de Iretama, aqui começaremos a traçar a História de Iretama.

O Brasil constitui-se em um país extremamente marcado por uma distribuição desigual de terras. Dentre os mais conhecidos nomes de grandes fazendeiros encontra-se o do senhor Geremias Lunardelli, que ficou conhecido na década de 1950 como “O Rei do Café”. Segundo o Jornal Cana de 06/01/2009, Lunardelli era de origem italiana e um homem de poucas posses, porém conseguiu ganhar dinheiro através da venda de leitões e posterior investimentos em terras. Lunardelli adquiriu propriedades em São Paulo, Minas Gerais, Paraná, Santa Catarina e Rio Grande do Sul, investindo principalmente na plantação de café. No estado do Paraná, Lunardelli possuía “grandes loteamentos de sítios e fazendas em Campo Mourão, São Pedro do Ivaí, Marumbí, Corumbataí do Sul, Reserva, Cândido de Abreu, Manoel Ribas e em inúmeros outros municípios” (ORQUIZA, 2013, sem paginação). Na época contava com um “grande latifúndio de terras devolutas do Estado do Paraná, requeridas por todos os funcionários da empresa” neste período as terras eram compradas a preços baixíssimos onde os interessados faziam o requerimento da terra para o Estado e assim tomavam posse, visto que neste momento o governo estava preocupado em ocupar território para não perder suas terras para outros países. 

Conforme citação de ORQUIZA: 

Eu mesmo assinei vários requerimentos para aquisição dessas terras. Naquele tempo a gente não se dava conta do que estava fazendo, ou talvez se não assinássemos aqueles requerimentos, poderíamos ser dispensados do trabalho. Essas terras eram compradas a preço irrisório, preço de banana". (ORQUIZA, 2013, sem paginação). 

No momento de sua ocupação, inúmeras pessoas que haviam se apossado ou grilado as terras requeridas foram assassinadas. Conforme o entrevistado E.M.M. (2013), "estas terras pertenciam ao Governo do Estado do Paraná, que mais tarde foram adquiridas por Lunardelli através da compra das mesmas". Muitas pessoas chegavam na região e se apossavam das terras, contudo no momento em que supostos donos chegavam, assassinavam estes posseiros para requerer as mesmas. Reforçando esta discussão, Orquiza (2013) relata que:  

“quantas e quantas vezes eu presenciei brigas de pessoas que cuidavam dessas grandes glebas de terras por causa das invasões de posseiros, pessoas que se apossavam da terra, pessoas valentes de má índole, muito perigosas, até foragidas da polícia". (ORQUIZA, 2013, sem paginação).”

Desta forma, inúmeros posseiros, indígenas e grileiros foram mortos no período de ocupação das terras devido às lutas geradas pelos moradores e atuais requerentes.


ENTÃO. 

Por volta do ano de 1949, o Senhor Geremias Lunardelli deu para seu genro Jaime Watt Longo, uma gleba de terras que fazia parte do atual município de Campo Mourão. Longo trabalhou durante muito tempo com Lunardelli em aberturas de terras para fazendas, cultivo de café e colonização para a criação de cidades. Após ganhar estas terras, Longo começou a investir na venda de pequenos lotes, haja vista a rentabilidade desta prática. 


Fonte: https://cimitan.blogspot.com/2008/12/jayme-watt-longo.html?m=1

Para que ocorresse a ocupação das terras, Longo se uniu com mais três amigos que possuíam na cidade de Londrina uma empresa de abertura de terras. Foi então que Jaime Watt Longo, Otaviano Felix, Manoel de Castro e Augusto Canesin formaram a empresa JOMA, cujo nome foi criado a partir das iniciais dos nomes dos proprietários da empresa. Após esta união, Longo tratou de trazer para a colônia uma filial da empresa que ficava na época localizada onde se encontra atualmente a Acimóveis; o próximo passo realizado por ele foi buscar no estado do Rio Grande do Sul profissionais para a abertura das cidades, os engenheiros Eduino Shineider e Lincon Creme e os topógrafos Paulo Shineider e Adão Gioto. 

Na chamada Colônia Iretama, que mais tarde veio a constituir-se no atual município de Iretama, eram poucas as pessoas que moravam, a maior parcela da população residia nas áreas rurais. Após a entrada de uma filial da empresa JOMA, Longo começou a vender as terras que havia ganhado.  Muitos dos migrantes que chegavam à colônia de Iretama, vindos principalmente dos estados de Minas Gerais, São Paulo e do próprio Paraná, permaneciam ali por pouco tempo, pois as condições de vida ainda eram bastante precárias.  De acordo com os relatos, é possível observar como era o trabalho dessas pessoas, onde alguns ficavam encarregados de cuidar das casas dos donos da firma e outros de trabalhar na mesma. 

"Vim de São Paulo; cheguei junto com a firma que abriu a cidade. Fui empregado da JOMA durante 10 anos. Vim do nordeste para São Paulo porque tinha parentes e ali fiquei por dois anos. Eu tinha um conhecido que me informou que nessa região havia muito emprego. Quando cheguei nas terras fui convidado por Jaime para trabalhar com ele na empresa, aí eu entrei de gerente na empresa".

"Vim do estado de São Paulo. O Jaime já era meu patrão desde lá. O Jaime era uma excelente pessoa, morei 10 anos na casa dele no estado de São Paulo. Essa casa da frente era da firma de gerente, dos que cuidava da firma, mas que moravam em são Paulo e vinham passar a temporada aqui. O Jaime mesmo não morou aqui, ele era muito rico o sogro dele era o “Rei do Café”. Quando eu fui trabalhar na casa dele eu estava com 18 anos. Em São Paulo, naquela época, eles vinham direto pra cá porque ele tinha outros sócios".

Em relação à comercialização das terras, estas eram vendidas em pequenos lotes, entre cinco e dez alqueires no máximo. As únicas grandes propriedades existentes eram a Fazenda Iretama a Fazenda 11, ambas pertencentes a Longo, e a Fazenda Gleba 11 e Fazenda Saci, de proprietários desconhecidos pela população.  Segundo um pioneiro, na Colônia de Iretama o número de moradias era muito pequeno, “dava até para contar as casinhas no meio do mato, todas de madeira”. Existia apenas uma farmácia, a do senhor Euclides Pepino, este por sua vez era tido também como o médico, pois além de farmacêutico, ele consultava as pessoas e realizava partos. Conforme a entrevistada, na época as mulheres da colônia também tinham seus filhos com parteiras, aquelas que não tinham condições de pagar por estas parteiras tinham seus filhos com seus próprios familiares; na época muitas mulheres e crianças morreram devido às complicações no parto e infecções geradas por falta de higiene. Para facilitar o acesso de Longo e de seus sócios às terras a serem comercializadas, foi construído um campo de aviação que atendia aviões de pequeno porte, visto que as estradas eram de difícil acesso, pois eram de terra e os carros não conseguiam trafegar principalmente nos períodos de chuva. Os meios de condução existentes eram três jipes que eram alugados quando ocorriam problemas de saúde de alta complexidade. Nestas ocasiões, era acionado o radio amador que buscava atendimento na cidade de Londrina solicitando o serviço de um avião. Contudo, este serviço atendia apenas os trabalhadores da empresa de Longo, ou seja, não estava disponível a toda a população da Colônia de Iretama.  

Fonte: http://www.fecilcam.br/anais/ii_seurb/documentos/ribeiro-tatiana-ferri.pdf


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