Café - Nosso ouro verde.

A introdução do cultivo de café no Paraná mudou a paisagem natural existente, cedendo lugar a uma cultura que trouxe milhares de migrantes colonizadores, vindos de São Paulo, Minas Gerais e de várias outras regiões do Brasil, assim como estrangeiros que haviam chegado ao Paraná e viam no café a esperança de uma nova vida e o sonho de muitas riquezas. O café contribuiu para a formação e colonização de uma parte significativa do Estado produzido em mais de 200 cidades paranaenses, ficou conhecido pelas expressões “ouro negro” e “ouro verde”. Podemos comparar o impacto econômico e social provocado pela cultura cafeeira, aos impactos da cana-de-açúcar no Nordeste brasileiro no período colonial e do ouro na região de Minas Gerais no século XVIII. Muitas pessoas depositaram no cultivo do café todas as suas esperanças de realização.

“Sintetizando o que foi a conjuntura dinâmica da cafeicultura paranaense cabe uma imagem. Um hipotético viajante que, em 1950, tivesse percorrido o Norte do Paraná partindo da fronteira com São Paulo, em Ourinhos, indo em direção ao Itararé, teria visto cafeeiros em declínio e pastagens em algumas áreas onde já havia se processado erradicação; próximo, a emergência de alguns núcleos que pouco depois seriam municípios e onde o café fora plantado pouco antes; de Jacarezinho a Londrina, cafeeiros ainda vigorosos em plena produção e outros novos, plantados quando os preços começaram a subir e o Departamento Nacional do Café afirmava não possuir mais estoques. De Londrina, na direção noroeste, teria visto cafezais em produção, de 5 a 10 anos e alguns um pouco mais, em toda a extensão até Maringá. Mais acima, até Paranavaí e na linha de Campo Mourão, cafezais ainda pequenos, recém plantados, alguns possivelmente em suas primeiras floradas. Mais além e na direção de Cianorte e Umuarama veria derrubadas com vistas a novas plantações. Em 1960, o panorama geral se constituía de um mar de ondulações de cafezais, monocultura em alguns municípios, misturados a lavouras temporárias em outros. Nas terras menos próprias ao café ou onde ele perdia produtividade havia uma tendência nova emergente eram desenvolvidas a pastagens artificiais”.(CANCIAN, 1981,p.139-140). 

http://biblioteca.ibge.gov.br/visualizacao/fotografias/GEBIS%20-%20RJ/PR21427.jpg


A seguir temos alguns relatos de pessoas que vivenciaram essas transformações que ocorreram em todo o Paraná e em Iretama:

Segundo M.J.B.N:

Nasci em Sabaldia, mas fui registrada em Rolândia, vim para Iretama em 1967, viemos morar eu e minha família no Rio Bonito no município de Roncador. Quando chegamos aqui, a gente veio de mudança, a gente nunca tinha visto morro, não sabíamos nem o que era um morro. O primeiro caminhão que desceu para o Rio Bonito foi o da nossa mudança, chegamos lá e não tinha ponte no rio, o rio estava cheio e tivemos que atravessar o rio com os pertences na cabeça, à turma ajudou bastante, daí ficamos três anos no Rio Bonito. Então nós mudamos para o Rio Bonito dois, foi quando eu me casei com 16 anos em 1969 e vim para Iretama e estou até hoje. Nós viemos para essa região porque meu pai procurou sitio para comprar e diziam que as terras daqui eram boas. Quando chegamos praticamente as casas que tinham era todas de pau a pique na cidade e nós viemos em busca de uma vida melhor por que a gente trabalhava no que era dos outros. O Ricardo meu marido tinha lavoura de café e foi quando comecei a trabalhar na lavoura de café, no começo não sabia nada, mas depois a gente foi aprendendo, mas dai ele morreu. Mas nós continuamos plantando café, tinha bastante café, a gente trabalhava duro, era bom mexer com o café porque o café tinha preço e tinha bastante gente para trabalhar no sitio. Mas hoje em dia a gente não mexe mais com o café porque não tem gente para ajudar, para trabalhar, os filhos foram crescendo, foram indo embora então hoje ficou muito difícil. Mas o café era a melhor opção do povo o café dava futuro. Foi um tempo bom o tempo em que a gente mexia com o café não posso reclamar não a gente trabalhava demais porque tinha que arruar para colher era tudo braçal e o café é um plantio que se você plantou um ano e zelou você tem ele pra muito tempo ele só não produz se você não zelar, o café é uma lavoura muito boa mas ta ficando todo mundo sozinho no sitio. 


Segundo: L.P.:

Nasci em Abatia em 1º de Dezembro de 1959, vim para Iretama em 1974 para morar no sitio São Jorge, vim para trabalhar na lavoura de Café, Iretama era bem pequenininha, mas só que tinha bastante lugar para trabalhar, hoje não tem mais, a gente trabalhava com o café, tinha que abanar o café, colher o café, cuar o café, tinha vários afazeres e naquela época tinha bastante gente para fazer tudo isso. Iretama ficou conhecida naquela época como capital do café. Iretama era bem animada a lavoura dava bastante dinheiro. Mas daí veio a geada de 75 e matou tudo não deu nada, depois veio a seca e acabou com o resto, muitos foram embora, mas muitos ainda ficaram trabalhando, mas tiveram que cortar o café todo em baixo para poder brotar de novo porque a geada veio e matou tudo tiveram que começar do zero. Mas nós ficamos aqui trabalhando com a mesma coisa. Depois fomos para o sitio do Zequinha seu José Gonçalves, lá foi difícil porque no meio do café a gente tinha que roçar pra poder limpar o cafezal, ali era triste, ali marcou muito minha vida, porque ali eu sofri muito, tinha a Isabel pequena, tinha que trabalhar e cuidar da minha filha, então só sofri. Mas graças a Deus deu tudo certo. 

FOLHA DE LONDRINA. Geada de 1975. Londrina PR.


Segundo J. D:

Nasci em Muzambim Estado de Minas Gerais, 4 de agosto de 1928, vim para Iretama em 1962, Iretama era bonita tinha umas 4 casas, a casa de comercio Wassilio Mamus, Casa União, mais algum barzinho, o cartório do Luiz Renzetti, quando chegamos aqui já era ele, mas a gente se virava com os compradores de cereais no Wassilio Mamus, a Casa União também comprava e o Joaquim sapateiro. Quando eu cheguei em Iretama em 62 tinha dado uma geadona e tinha matado todo o café, aqui sobrou por exemplo o café do compadre Armando Flor, do Orlando Lupatelli, aquele meio ali conseguiu conservar o café, mas esse meio aqui lutaram e não saiu café, naquele época tinha uns café até grande a geada não tinha pego eles, eu ainda abanei um café pro Luiz Catarinense tinha pé de café que dava um saco de café, mas só que estava sequinho, porque a geada tinha matado, depois disso ali já não saiu mais café. No Caribu também tinha umas lavourinhas de café, mas café mesmo era na Cristalina, Três Placas, ali sempre teve café .Em 62 e 63 a firma do Jayme Watt Longo o dono de Iretama, chegou a queimar muito café naquela época, acho que o café por ter sido geado não deu um produto bom, então deu um café ruim e foi queimando muito café mesmo. Mas o café era bom se não fosse a geada Iretama era bem melhor do que ela é hoje, tinha muito mais dinheiro porque você sabe o café no Brasil foi uma das coisas que mais trouxe dinheiro para o Brasil foi o café depois veio o gado, algodão, agora veio o soja mas o principal produto do Brasil foi o café, lá no Estado de Minas Gerais eu trabalhei muito com o café até meus trinta anos de idade foi com o café lá, até hoje a região nossa mesmo é de muito café.

Segundo M. A. S:

Muitas pessoas, após o fim do café, acabaram indo embora para as grandes cidades para melhorar de vida. A cidade [referindo-se à Iretama] não oferecia emprego, não tinha indústria, as serrarias, olarias, a indústria de destilação de hortelã, barracões de bicho da seda, fábrica da farinha de milho, fábrica de tecido e até mesmo o campo de aviação, foram se perdendo ao longo do tempo. 



Fonte: http://www.fecilcam.br/anais/ii_seurb/documentos/ribeiro-tatiana-ferri.pdf

http://www.diaadiaeducacao.pr.gov.br/portals/cadernospde/pdebusca/producoes_pde/2014/2014_unespar-campomourao_hist_pdp_daniela_cassarotti.pdf

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